Garotas maduras não choram...


Ainda posso sentir o seu cheiro no meu moletom favorito que já não o visto mais desde que você partiu. Eu o guardei bem no fundo do armário dentro daquela caixa que você odeia e sempre dizia pra colocar fogo porque eu ainda iria morrer por causa da minha alergia a coisas velhas. Naquela caixa agora estão as nossas fotos, as coisas que você me deu e tudo o que me lembra você. Talvez eu acate a ideia de colocar fogo, talvez seja melhor colocar fogo e deixar queimar. Mas colocar fogo no passado, em algo que já me fez bem, é a melhor solução? Isso não vai aumentar a minha saudade de você? O.K. Eu decidi. Não vou colocar fogo naquela caixa. Hoje eu acordei de manhã sorrindo. Sorrindo porque eu sonhei com você essa noite, sonhei que tinha voltado pra casa. Eu não sei, senti algo diferente nessa manhã e eu não sei bem o que era. Passei a tarde largada no sofá assistindo toda aquela programação idiota que você assistia todos os dias e comi todas aquelas porcarias que você comia assistindo tv. Cansei de ficar quieta em casa e então eu decidi ir no parque em que nós nos conhecemos para passear. Mal pude acreditar, você estava lá, sentado no mesmo banco, com aquela mesma camisa xadrez, com aquele mesmo tênis furado, com o mesmo cabelo bagunçado de s-e-m-p-r-e. Faziam exatamente 33 dias desde que você se foi. Eu pensei em me aproximar e ir puxar conversa. Eu queria saber como você estava, eu precisava saber. Já faziam 33 dias em que eu não tinha uma notícia sua. 33 dias imaginando se você anda comendo direito. Se parou de beber. Se anda se exercitando. Fazia exatamente 4 semanas e 3 dias. 33 dias, 792 horas que eu não tinha uma noticia sua. Eu sei, eu já estou ficando neurótica. Mas depois de todo esse tempo você estava ali, na minha frente do mesmo jeito como no dia em que eu te conheci. Eu queria correr para os seus braços, te abraçar bem forte sentir o calor do seu corpo e dos seus beijos novamente. Queria te dizer como eu estava sentindo sua falta, como eu queria que você voltasse. Mas eu tinha que controlar, eu não podia deixar você perceber que eu estava sentindo a sua falta. Você devia estar bem, até hoje não me procurou. E não vai ser eu que vou atrás de você, afinal, eu não te mandei ir embora. Eu sentia uma vontade imensa de chorar sua partida ali naquele parque mas logo eu me lembrava do que eu li em algum livro de auto ajuda em uma dessas minhas recaídas: “garotas maduras não choram” eu repeti essa frase algumas vezes até me convencer de que eu era madura o suficiente pra não chorar. Logo notei que você estava com um bloco de papel e uma caneta, escrevendo. Desde quando adquiriu gosto pela escrita? Nunca foi de escrever. Você me dizia que escrever era pra mudos que não podem falar, e que isso era uma besteira. Quando foi que mudou de ideia? Como eu queria te perguntar… mas foi assim, durante 17 fins de tarde. Eu ia no mesmo parque e ficava te observando durante 17 fins de tarde, reprimindo os meus desejos durante 17 fins de tarde. Te vendo escrever por 17 fins de tarde. Repetindo a mesma frase durante 17 fins de tarde. No 18º fim de tarde, eu fui no parque só que você não estava lá. Eu voltei pra casa, triste por não ter te visto. 19º fim de tarde e você também não apareceu. 20º fim de tarde e nada de você aparecer. Eu já estava ficando preocupada. Será que conheceu outra pessoa? Porque sumiu assim? Então eu comecei a jurar pra mim mesma que se você aparecesse eu iria conversar com você, ia esquecer o meu orgulho e tudo o que eu havia aprendido nos livros de auto ajuda. Eu jurei por mim. 21º fim de tarde e nada de você. Os fins de tarde foram passando, 22º, 23º, 24º e nada de você aparecer. Eu já estava desistindo de ir vê-lo no parque. Mas decidi que o 25º fim de tarde seria o ultimo. Eu cheguei no parque e como de costume você não estava lá. Fazia um frio cortante naquele fim de tarde. Então resolvi sentar no banco em que você era acostumado a sentar e fiquei la por um tempo, lembrando de você e imaginando mil e um motivos pelo qual você tinha parado de ir no parque.  Eu estava muito longe, olhar vazio. Será que você tinha arrumado outra namorada? Será que você tinha me visto? Será que você... De repente um velho estranho se aproxima, se senta ao meu lado e interrompe meus pensamentos.
— Hoje está mais frio que os outros fim de tarde, não é? — Eu estava muito longe para entender a pergunta dele, então eu o ignorei por alguns longos segundos, mas então eu me lembrei que aquele velho não tinha culpa de nada e que um pouco de conversa não faz mal a ninguém.
— Hãn? — Eu perguntei, eu nem tinha prestado atenção na pergunta dele.
— Está mais frio que de costume, né? — ele repetiu pacientemente.
— Ah sim, está. — Eu estava tão fria quanto aquele dia.
— Você é a Nic né? — Ninguém me chama de Nic. Quer dizer, Derick me chamava assim mas ninguém mais.
— Sim — Respondi um pouco assustada. — E o senhor é quem?
— Só vim te entregar alguns papeis. — O senhor me entregou um bloco de papeis e saiu.
 — Ei, como é o seu nome? Que papeis são esses? Quem mandou? — Eu perguntei enquanto ele se levantava mas ele me ignorou. — Como é o seu nome? — Tentei novamente algumas palavras mas foram em vão, ele só olhou pra mim e acenou um adeus. Então eu olhei o bloco imaginando quem seria que tivesse mandado, mas não tinha nomes. Na primeira folha do bloco tinha a seguinte frase: “Vá pra casa, deve estar o maior frio, não quero que pegue um resfriado”. Na hora eu hesitei um pouco. Afinal, não é todo dia que ganhamos um bloco de papeis de um desconhecido e ainda mais me mandando ir pra casa. Mas de fato estava muito frio e eu não tinha nada a parder, afinal... então eu decidi que seria melhor ir embora mesmo. Ao chegar em casa joguei o meu cachecol na cadeira mais próxima e fui ler o bloco de papeis. Na segunda folha estava escrito “Nic, me desculpe ter partido daquela forma, eu não queria te fazer sofrer.” Será que era o Derick? Senti meu coração acelerar e algo dar um nó na minha garganta. Continuei lendo o que havia escrito naquele bloco e cada vez que continuava lendo mais o nó apertava e mais meu coração insistia em saltar pela minha boca. “Eu tive que partir, eu precisava ir embora. Foi melhor, acredite. Eu imagino que você deve estar me odiando. Mas foi melhor, eu não queria ter que fazer isso, mas te ver sofrer depois iria ser pior pra mim." Seria? Duvido.  "Hoje, eu fui ao médico. Fiz alguns exames e ele me disse que eu estava com câncer. Quando ele me deu a notícia um filme de você brigando comigo pra parar de beber passou na minha cabeça. Aliás, ele disse que foi por causa da bebida. E que já estava em um estagio muito avançado. Você foi a unica pessoa em que eu conseguia pensar. Eu ia morrer. E os nossos planos, e as nossas promessas? O que iriam ser delas? Eu não queria que se preocupasse comigo, não queria te preocupar. Então eu achei melhor te deixar. Assim quem sabe você encontraria outra pessoa, se casaria e realizaria nossos planos com esse novo cara. Eu ia ficar mais tranquilo sabendo que você tem alguém do seu lado que iria cuidar de você e ter filhos e te fazer feliz já que eu… bom, eu vou morrer.” Meus olhos encheram-se de lagrimas eu queria chorar. Por que não me falou nada? Eu iria te ajudar. Droga! Você é um idiota. “Não me culpe, ou julgue, eu fiz o que fiz pensando em você. E não se culpe também, você foi perfeita, a melhor namorida do mundo. Ontem eu te vi no parque. Estava tentando escrever algo pra você, porque eu fiquei mudo na hora. Eu pensei em conversar contigo, mas eu achei que iria ser pior, ia te dar esperanças e eu queria que me esquecesse. Você estava linda. Ainda lê livros de auto ajuda? Vi você repetir algumas vezes ‘garotas maduras não choram’ - risos - como eu queria te abraçar…” Idiota, porque não foi? Passei umas 5 folhas do bloco: “Hoje no caminho do parque eu passei mal. Eu estou internado, acho que… eu vou morrer. Eu estou muito fraco. Como eu queria te ver de novo, eu jurei por mim que se você ainda estivesse lá, eu iria te contar toda a verdade, mas eu não consegui chegar. Me perdoa princesa? Eu sei que não deveria ter ocultado isso de você, sei que foi errado, me perdoa?” Eu não vou chorar, eu não vou chorar, repeti umas 4 vezes e passei mais algumas folhas e vi escrito bem grande ocupando todo o espaço “eu amo você minha linda, beijo na testa”. Não consegui conter um sorriso de canto de boca e as lagrimas desceram, não consegui segura-las mais. Abracei aqueles papeis contra o peito deixando-os todos amassados. Logo percebi que restava somente mais uma folha pra ler e nela estava escrito assim com uma caligrafia que mal dava pra ser entendida “Eu realmente estou mudo, não consigo completar as palavras, nem tenho forças o suficiente pra segurar essa caneta. Eu vou morrer, mas não se esqueça que eu sempre vou estar ao seu lado. Não chore minha pequena, garotas maduras não choram lembra? Eu vou guardar seus passos de onde eu estiver, não vou deixar nada de ruim te acontecer, confia em mim. Jogue as coisas que eu te dei fora, fique apenas com aquela foto em que eu te carrego nos braços pra te jogar no mar. Arrume outro namorado, permita-se apaixonar novamente. Realize nossos planos com ele. Fique despreocupada eu não vou deixar nenhum idiota te fazer sofrer porque onde eu estiver eu ainda vou estar cuidando de você. Eu prometo.” O ponto final formava uma reta até o canto inferior direito da folha. Eu não tive como conter o choro, liguei pra família dele e eles me disseram tudo o que havia acontecido de fato, ele faleceu hoje, no fim de tarde mais frio até agora. No velório ele estava com a camisa xadrez do dia em que eu o conheci. Eu me debrucei sobre o caixão e disse que o amava. Eu me arrependo de ter deixado o orgulho tomar conta de mim aquele dia, quem sabe as coisas seriam diferentes quem sabe eu teria passado algum tempo do seu lado. Mas nunca vou te esquecer, e também não vou mais chorar. Eu te amo, e te amarei e um dia eu tenho certeza que ainda vamos nos encontrar. Sou madura o suficiente pra esperar e até la você prometeu cuidar de mim, eu confio em você.
Ps: promessas não podem ser quebradas e garotas maduras, não choram.

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